sábado, 20 de março de 2010

John Love da Rodésia

O mito atendia pelo nome de John Maxwell Lineham Love. Nasceu na Rodésia, em 1924. Mas onde raios fica a Rodésia? Na verdade ela nem existe mais.

A Rodésia era uma colônia de mineração comandada por Cecil Rhodes, daí o nome 'Rodésia'. Rhodes era um magnata britânico. Depois da morte de Rhodes, em 1902, a Rodésia manteve o nome mas se separou em duas já em 1910: a Rodésia do Norte, hoje Zâmbia, e a Rodésia do Sul, hoje Zimbábue.

Isso tudo tem de ser lembrado, para dizermos que John Love é nascido na cidade de Bulawayo, hoje a segunda maior cidade do Zimbábue.

Passou sua infância na cidade, e sempre gostou de corridas. Na década de 1960, chegou a ganhar campeonatos africanos de automobilismo, e então decidiu se aventurar na F1, sempre com carros próprios. Disputou dez corridas pela categoria. Enquanto isso, desde 1953 até 1963, a Rodésia do Sul, do Norte, e ainda a Niassalândia, que hoje é o Malawi, estavam unidas.

Love nunca teve muito apoio para fazer o que gostava. Vivia em uma colônia que frequentemente anunciava ligações com outros territórios, e guerreava para obter sua independência.

A Rodésia chegou a independência, mas as guerras civis entre negros e brancos persistia. Como era branco, estava do lado mais avantajado da sociedade rodesiana e deixou de lado todo o temor que aquele povo vivia.

Enquanto sua pátria continuava em conflitos, ele parecia não ligar muito para isso e queria somente correr na Fórmula 1, seu grande sonho.

Love começou sua empreitada na categoria em 1962, e terminou a prova num honroso 8° lugar com seus equipamento independente. Correu ainda em 1963 chegando em 9°, conseguiu ir correr em Monza de Cooper no ano de 1964 quando saiu da prova, e ainda correu novamente no GP africano que acabou abandonando.

Depois de um ano de ausência John Love sem muito alarde volta a correr em 1967 no GP africano. Com seu equipamento independente que era dotado de chassis Cooper e motores Climax, o rodesiano surpreendeu a todos com seu carro 17.

Love em 1968.

Pela primeira vez o circuito de Kyalami estava sendo utilizado, em substituição a East London. Houveram mudanças no que diz respeito às equipes dos pilotos, e a expectativa era grande para a primeira prova da temporada. John Surtees estava agora dirigindo para a Honda, Mike Spence pela BRM, e Pedro Rodríguez pela Cooper.

Logo na largada, Denny Hulme e Jack Brabham se desentenderam,e o australiano deu o segundo lugar para Surtees. Mas logo na volta 21 já tinha conseguido recuperar. Um pouco para trás do grid, John Love estava fazendo muito sucesso, e fez uma grande primeira parte, subindo ao terceiro lugar no seu 4-cilindros Cooper Climax. Na volta 41 Brabham recolhe, mas ainda volta a prova depois, seguido por Dan Gurney na volta 44. Na volta 59, Hulme teve que ir aos boxes por causa de seus freios, entregando a liderança ao incrível John Love. A apenas 7 voltas do fim da prova, Love teve de levar seu carro ao boxe, para o reabastecimento de precaução, graças a problemas na ignição do carro. Rodríguez assumiu a ponta para vencer a prova, com John Love num heróico segundo lugar, e Surtees completando o pódio em terceiro.


Love quando liderava a prova, em 1967.

Apenas 26 segundos separaram o mexicano Pedro Rodríguez do rodesiano John Love, algo pouco para as circunstâncias da prova.

Love chegou a fazer ainda mais cinco corridas na Fórmula 1, todas elas na África do Sul. As provas que ele ainda chegou a fazer não tinham um ar de completo independente como em 1967, pois seu desempenho despertou uma vaga na Gunston durante esses cinco anos para as corridas africanas. Porém seu desempenho não foi bom nessas provas, abandonando em duas oportunidades, e conquistando como melhor resultado um 8° lugar.

Na F1 ele foi até 1972, mas sua carreira não teve apenas uma passagem curta, porém marcante na F1. John Love está no hall de campeões da BTCC, um dos campeonatos de turismo mais importantes do mundo, conquistado em 1962, ano também de sua estréia na F1. É até hoje o único piloto africano a conquistar o título da categoria.

Love morreu em 2005, aos 80 anos de idade, na mesma cidade em que nasceu, porém num país diferente. Diágnosticado com câncer em 2004, fez três meses de sessões de quimioterapia, e antes de sua morte ainda participou da Golden Age of Racing, uma reunião em homenagem a antigos pilotos realizada em Pretória. Deixou sua mulher Carol, seus filhos Rudy, Chevonne, Marcos e Royce, além de uma herança histórica aos que gostam de F1.